terça-feira, 19 de abril de 2011

ANAXIMENES

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) concordava com Anaximandro de Mileto quanto ao a-peiron, e com as características desse princípio apontadas por Anaximandro. Mas postulou que esse a-peiron fosse o Ar.
Foi discípulo e continuador da escola Jônica e escreveu sua obra: “Sobre a natureza”, também em prosa. Dedicou-se especialmente à meteorologia. Foi o primeiro a afirmar que a luz da Lua é proveniente do Sol.
Enquanto Tales sustentava a ideia de que a água é o bloco fundamental de toda a matéria, Anaxímenes dizia que tudo provém do Ar e retorna ao Ar. Era inquieto.
  • Adágio de Anaxímenes: "Exatamente como a nossa alma, o ar mantém-nos juntos, de forma que o sopro e o ar abraçam o mundo inteiro…"

[editar] A Cosmologia de Anaxímenes

Simplício em seu livro Física nos conta: “Anaxímenes de Mileto, filho de Eurístrates, companheiro de Anaximandro, afirma também que uma só é a natureza subjacente, e diz, como aquele, que é ilimitada, não porém indefinida, como aquele (diz), mas definida, dizendo que ela é Ar. Diferencia-se nas substâncias, por rarefação e condensação. Rarefazendo-se, torna-se fogo; condensando-se, vento, depois, nuvem, e ainda mais, água, depois terra, depois pedras, e as demais coisas provêm destas. Também ele faz eterno o movimento pelo qual se dá a transformação.”
A Terra, acreditava Anaxímenes, foi formada primeiro, e dela, ergueram-se as estrelas, dando a impressão de que estas são rarefações do fogo. A Terra era plana e boiava no Ar. O Sol também era “plano e largo como uma folha” e caminhava através do Ar.
De acordo com uma passagem isolada escrita pelo teólogo sírio Aécio, Anaxímenes pensava que as estrelas eram fixas como “pregos no cristalino”. Ele também alegadamente acreditava que as estrelas não produziam calor por causa de sua grande distância em relação à Terra, o que era uma visão mais acurada do que a de Anaximandro, que considerava as estrelas mais próximas da Terra do que o Sol.
A presunção feita por Anaxímenes de que o Ar estava eternamente em movimento, traz ao pensamento a noção de que o Ar possuía vida – uma crença razoável no contexto primitivo que sempre associou vida com sopro. Há evidências de que Anaxímenes fez analogias entre o Ar-divino que sustenta o Universo e o ar-humano, ou alma, que dá vida aos homens. Sobre isto, Aécio escreve: “Como nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o cosmo sopro e ar o mantém”.
Tal comparação, entre o macrocosmo e o microcosmo, permitiu a Anaxímenes desenvolver o argumento sobre a existência de uma única entidade – o Ar – a sustentar a diversidade de todas as coisas.

[editar] Anaxímenes e a Física Moderna

Anaxímenes diz que as coisas sólidas são ar condensado e que as mais rarefeitas são ar mais rarefeito (assim como a água para Tales, o ar deveria ser meramente uma metáfora do Ar, para Anaxímenes). E dá como exemplo o ar que sai da boca: se assopramos com os lábios mais apertados (fazendo beiço) o ar sai frio, e se "assopramos" com a boca aberta, sai quente.
"A variação quantitativa de tensão da realidade originária dá origem a todas as coisas" é uma forma de se dizer que todas as coisas são diferentes "formas" de Ar original. Isso é muito semelhante à teoria das supercordas, que diz que os quarks (partículas que formam todas as outras, inclusive elétrons, prótons e nêutrons) são como que vibrações de energia: as diferentes partículas seriam mais ou menos como frequências diferentes da vibração da energia (mais ou menos como as notas musicais são vibrações diferentes de um fio; a quarta corda do violão, se tocada enquanto se aperta na primeira casa, faz um dó, na segunda casa, um ré, e assim sucessivamente, porque quanto mais próxima a casa estiver do corpo do violão, maior vai ser a frequência da vibração da corda).
Se a teoria das supercordas estiver certa, Anaxímenes também estava. Pois, se chamarmos o Ar de energia, e sabendo que "quente" e "frio" são estados produzidos pela vibração dos elétrons (quanto mais os elétrons vibram, mais quente a coisa que eles compõem está), ele descreveu a teoria há muito tempo, utilizando expressões e imagens diferentes, como em uma analogia. (Para um estudo e análise mais detalhada sobre Anaxímenes cf. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-Socráticos. Primeiros mestres da filosofia e da ciência grega. Porto Alegre: Edipucrs, 2ªed., 2003). Nao podemos confudir Anaximenes com Anaxagoras,são dois filosofos diferentes,com
Anaxímenes, cujo apogeu se deu entre 546 e 525 a.C., mas novo que Anaximandro em uma geração, foi o último do trio de cosmologistas milésios, e de vários modos ele é mais próximo de Tales que Anaximandro, mas seria um erro considerar que com ele a ciência teria regredido em vez de avançar. À semelhança de Tales, Anaxímenes pensava que a Terra deveria repousar sobre algo, mas ele sugeriu o ar, e não a água, como seu colchão. A Terra é plana, e planos são também os copos celestes. Estes, em vez de circularem abaixo e acima de nós durante o período de um dia, circulam horizontalmente em torno de nós, como um capacete girando em torno de uma cabeça (KRS 151-6). O nascer e o pôr dos corpos celestes é aparentemente explicado pelo ângulo formado com a Terra plana. Quando ao princípio de tudo,  Anaxímenes considerava a matéria infinita um conceito muito vago e optou, à semelhança de Tales, por considerar fundamental apenas um dos elementos existentes, e de novo escolheu o ar em vez da água.
Em seu estado estável o ar é invisível, mas quando é movido e condensado ele primeiro se torna vento, em seguida nuvem, depois água e, finalmente, a água condensada se torna lama e pedra. O ar rarefeito torna-se fogo, completando assim a escala dos elementos. Desse modo,  a rarefação e a condensação podem conjurar tudo a partir do ar existente (KRS 140-1). Para sustentar essa afirmação, Anaxímenes apelou para a experiência, na verdade para um experimento – um experimento que o leitor pode facilmente realizar por si mesmo. Sopre em sua mão, primeiro com seus lábios cerrados, depois com a boca aberta: da primeira vez o ar será sentido frio, da segunda será quente. Isso, argumentou Anaxímenes, demonstra a conexão entre a densidade e a temperatura.
O experimento e a percepção de que mudanças de qualidade estão relacionadas a mudança de quantidade definem Anaxímenes como um cientista em potencial. Somente em potencial, no entanto, pois ele não tem os meios para medir as quantidades que invoca, ele não concebe equações que as relacionem, e seu princípio fundamental contém propriedades míticas e religiosas. O ar é divino, e gera divindades a partir de si (KRS 144-6); o ar é nossa alma e é o que mantém nossos corpos unidos (KRS 160).
Os milésios não são portanto físicos de fato, mas também não são construtores de mitos.  Eles não abandonaram os mitos, mas estnao se distanciando deles. Ainda não são verdadeiramente filósofos, a não ser que por “filosofia” se queira dizer apenas ciência em sua infância. Eles fazem pouco uso da análise conceitual e do argumento a priori, que tem sido a ferramenta dos filósofos desde Platão até o presente. Eles são especuladores, e em suas especulações se misturam elementos de filosofia, ciência e religião em uma rica e borbulhante poção.

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