sábado, 18 de junho de 2011

CARCARÁ

Carcará

Por ter vivido no periodo da ditadura militar onde tudo era proibido, e não podendo falar abertamente pois corria o risco de ser preso e torturado porém para fazer suas denuncias, João do Vale faz um paradoxo utilizando a figura de uma ave forte e valente como o carcará. Essa foi a forma que o poeta encontrou para denuciar a real situação que viviam os nordestinos, povo forte e trabalhador ter que estender a mão para pedir um pedaço de pão ,pois eram assolados por secas ou enchentes e para não morrer de fome tinham que deixar sua terra natal e partir para São Paulo em busca de dias melhores. Em 1950 10% da população do estado do Piaui vivia fora de sua terra natal 13% do Ceará 15% da Bahia 17% de Alagoas . Enquanto isso os governantes brasileiros presenteavam a rainha da Inglaterra com um colar contendo 40 pedra de algas marinhas brasileiras.
-“Durma com uma goteira dessa e acorde satisfeito” !!!!!!!.João do Vale

João do Vale

João Batista do Vale nasceu em Pedreiras MA em 11 de Outubro de 1934. Desde pequeno gostava muito de música, mas logo teve de trabalhar, para ajudar a família. Aos 13 anos foi para São Luís MA, onde participou de um grupo de bumba-meu-boi, o Linda Noite, como "amo" (pessoa que faz os versos). Dois anos depois, começou sua viagem para o Sul, sempre em boléias de caminhões: em Fortaleza CE, foi ajudante de caminhão; em Teófilo Otoni MG, trabalhou no garimpo; e no Rio de Janeiro RJ, onde chegou em dezembro de 1950, empregou- se como ajudante de pedreiro numa obra no bairro de Ipanema. Passou a freqüentar programas de rádio, para conhecer os artistas e apresentar suas composições, em maioria baiões. Depois de dois meses de tentativas, teve uma música de sua autoria gravada por Zé Gonzaga, Cesário Pinto, que fez sucesso no Nordeste. Em 1953, Marlene lançou em disco Estrela miúda, que também teve êxito; outros cantores, como Luís Vieira e Dolores Duran, gravaram então músicas de sua autoria. Em 1964 estreou como cantor no restaurante Zicartola, onde nasceu a idéia do show Opinião, dirigido por Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa, que foi apresentado no teatro do mesmo nome, no Rio de Janeiro. Dele participou, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão, tornando-se conhecido principalmente pelo sucesso de sua música Carcará (com José Cândido), a mais marcante do espetáculo, que lançou Maria Bethânia como cantora. Como compositor, em 1969 fez a trilha sonora de Meu nome é Lampião (Mozael Silveira). Depois de se afastar do meio musical por quase dez anos, lançou em 1973 Se eu tivesse o meu mundo (com Paulinho Guimarães) e em 1975 participou da remontagem do show Opinião, no Rio de Janeiro. Tem dezenas de músicas gravadas e algumas delas deram popularidade a muitos cantores: Peba na pimenta (com João Batista e Adelino Rivera), gravada por Ari Toledo, e Pisa na fulo (com Ernesto Pires e Silveira Júnior), baião de 1957, gravado por ele mesmo. Em 1982 gravou seu segundo disco, ao lado de Chico Buarque, que, no ano anterior, havia produzido o LP João do Vale convida, com participações de Nara Leão, Tom Jobim, Gonzaguinha e Zé Ramalho, entre outros. Em 1994, Chico Buarque voltou a reverenciar o amigo, reunindo artistas para gravar o disco João Batista do Vale, prêmio Sharp de melhor disco regional. Faleceu em São Luís MA no dia 06 de Dezembro de 1996, sendo sepultado em sua cidade natal, Pedreiras."O poeta"

como era carinhosamente conhecido pelos pedrerences


Forró forrado
O show do Forró Forrado foi criado especialmente para João do Vale pelo seu proprietário, seu Adolfo, amigo e admirador do criador de Pena na Pimenta.
Sem gravar discos, por causa da censura, vendendo seus baiões para outros compositores, o poeta estava à margem da indústria cultural. Preocupado com a situação do amigo, seu Adolfo criou o show. Na primeira apresentação, lá estava um grupo de pouco mais de 150 pessoas – a maioria viera para rever e ouvir João do Vale, os que ainda não o conheciam logo se tornaram seus fãs, e o forró transformou-se num sucesso.
Ali, naquele espaço pobre, onde alguns poucos ventiladores aliviavam o calor do salão, a carreira de João do Vale tomou novo impulso, ele passou a acontecer de novo.
A conversa rica e original de João do Vale ia esquentando à medida que os copos se esvaziavam sobre a mesa do boteco e ele, no seu gesto característico, ia libertando os pés das sandálias por debaixo da mesa.
Como todo grande artista, João se antecipou aos cientistas na percepção do mundo social, da tragédia ou da comédia desta vida. Foi assim que, muito antes que a expressão “capilaridade social” ganhasse freqüência na linguagem dos sociólogos, João do Vale já detectava com agudeza o movimento de ascensão que permite a uns poucos sair da miséria para compartilhar da abastança. Em Minha História, ele fala de sua origem pobre e de sua ascensão como artista, mas, quando já com a consciência meio aliviada, no preparamos para festejar sua glória, ele desfaz o jogo de encantamento para terminar denunciando: “Mas o negócio não é bem eu/É Mane, Pedro e Romão/Que também foi meu colega/E continuam no sertão/Não puderam estudar/Nem sabe fazer baião”.

Fim da censura
Em 1975, os ares estavam mais respiráveis, então, João do Vale retornava de Pedreiras para Nova Iguaçu e apresentava, com enorme sucesso, seus show em circuitos universitários.
E ainda esse ano o show Opinião foi reapresentados, após 10 anos da realização do primeiro. Alguns meses depois do segundo show Opinião, João do Vale foi convidado para apresentar-se nos Estados Unidos da América e seu sucesso foi tanto que ele voltou outras vezes.
Em 1976, João preparou e apresentou seu show E agora João? E um de seus melhores momentos era, sem dúvida, o inspiradíssimo xote que colocava um pobre, embora precavida, viúva em maliciosa conversa com um matreiro e assanhado amigo da família. E, lapingochadas à parte, a platéia se deliciava com a desfaçatez, ou melhor, a cara-de-pau dos personagens.
E João do Vale continuou apresentando seus shows por todo o país, vendendo seus LPs, ganhando com direitos autorais.

Doença
Em 1987, quando ia Nova Iguaçu com uma amiga, parou em um restaurante para almoçar. João sentiu-se mal e de repente desabou direto no prato, fulminado por um AVC, mais conhecido como derrame cerebral. Sua acompanhante ficou apavorada e, não se soube se por ignorância ou maldade, saiu correndo e abandonou o local. Então, foi levado inconsciente para o Hospital da Posse de Nova Iguaçu. Sem documento e dinheiro (sua carteira ficara na bolsa da tal acompanhante), foi deixado numa maca e negligentemente abandonado à própria sorte.
Após ficar sem atendimento adequado, teve convulsão e caiu da maca, batendo a cabeça no chão do Hospital. Foi atendido por uma estagiária mais atenta, onde foi reconhecido e a partir daí passou imediatamente de “crioulo sem ter onde cair morto”, para “artista brasileiro negro e talentoso, necessitado de socorro imediato”. Peculiaridades de um país socialmente racista.
João ficou internado por dois anos na ABBR, no bairro Jardim Botânico, para tratar da semi-paralisia do lado direito do seu seu corpo. Nesse período seus amigos se movimentaram para organizar e promover shows em benefício do artista e sua família.
Em 1989 João recebeu alta, onde providenciou a sua aposentadoria, onde passou a viver dessa pensão (cinco salários mínimos) e de direitos autorais.
João do Vale ficou consciente, mas com grande lacunas na memória, cognição afetada, dificuldades na fala, tinha o corpo semi-paralisado e a perna visivilmente atrofiada.

Retorno a pedreiras
Em outubro de 1992 João é homenageado em sua terra natal, com um show no Teatro da Praia Grande. Músicos e intérpretes, de toda uma geração que não pôde vê-lo ao vivo, agora cantavam os sucessos do velho mestre. Na ocasião João revelava que sua intenção era se mudar para a cidade de Pedreiras a fim de passar o resto da sua vida na terra onde nascera.
Então João volta para Pedreiras, mudança fundamental para sua saúde. Ele não cansava de repetir o quanto se sentia bem em sua cidade natal.

Homenagens
Ao completar 60 anos, em 1993, João era lembrado com um show no teatro que levava seu nome, o Espaço Cultural João do Vale, na Praia Grande, em São Luis. Uma semana após o show ele apareceria de surpresa na estréia de Chico Buarque no Canecão, no Rio. Naquele mesmo final de ano, Chico Buarque começou a pensar no projeto de um disco-tributo para João do Vale, com venda a ser revertida para o artista e sua família.
O discou começou a ser gravado, pela BMG – Ariola, em 1994 e tinha direção artística de Chico Buarque, Fagner e Sérgio de Carvalho e participavam vários artistas consagrados trazendo somente composições de João do Vale.
O disco-tributo João Batista Vale recebeu, em 1995, o Prêmio Sharp de melhor disco de música regional.

Morte
No ano de 1996, a saúde João do Vale ia oscilando, apresentando melhoras alternadas com algumas crises.Todo o dia João batia ponto nos jogos de dominó em frente ao Sindicato dos Arrumadores, no centro de Pedreiras. Aos poucos, o estado de João do Vale passava a preocupar cada vez mais. Em 22 de novembro daquele ano, a turma do dominó soube que João não iria para o jogo, pois passara mal e resolvera ficar em casa. No final da tarde foi acometido por um novo acidente vascular cerebral. Apresentando um quadro grave de diabetes, hipertensão arterial e insuficiência renal, no dia 4 de dezembro, sofria seu terceiro e fatal derrame, o que o levou ao coma. E no dia 06 de dezembro de 1996, sexta-feira, às 13h30min, com falência múltipla dos órgãos, morria João Batista Vale, o poeta do povo João do Vale. A pedido seu, antes de morrer, foi enterrado, em 8 dezembro, no modesto cemitério São José, de Pedreiras. Mais de 5 mil pessoas acompanharam o cortejo fúnebre, ao som de Pisa na fulô e Carcará, em arranjo para solo de saxofone de Sávio Araújo.

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