segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

EXITEM APÓSTOLOS NA IGREJA DE HOJE? Steve Atkerson (*) Muitos evangélicos rejeitam sinceramente a idéia de que possam existir apóstolos na igreja de hoje. Isso, em razão de “os Doze” terem sido escolhidos pessoalmente por Jesus para representá-Lo e por terem sido instruídos também por Ele diretamente. Certa vez, Jesus disse aos Doze: “Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou” (Mateus 10:40). Durante a última ceia, Jesus prometeu aos Doze que o Espírito Santo “vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito” (João 14:26). Depois da ascensão de Jesus, os primeiros cristãos se devotaram, não ao que Jesus havia dito, mas à “doutrina dos apóstolos” (Atos 2:42). Isso aconteceu porque os ensinamentos dos apóstolos eram idênticos aos ensinos de Jesus. Quando Paulo visitou os irmãos na Galácia, eles o receberam “como a um anjo de Deus, mesmo como a Cristo Jesus” (Gálatas 4:14). Certamente os apóstolos tinham consciência de que sua única autoridade era como representantes de Jesus. Escrevendo aos Coríntios, Paulo disse: “Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Coríntios 14:37). Falando diretamente aos Doze, Jesus garantiu: “se guardaram a minha palavra, guardarão também a vossa” (João 15:20). Não admira que poucos sejam audaciosos o bastante para reivindicar o manto do apostolado moderno! Porém, novos dados vêm à luz quando examinamos as informações sobre os apóstolos no Novo Testamento. Paulo escreveu que o Senhor ressurreto apareceu “aos Doze” e depois a todos os “apóstolos” (1 Coríntios 15:3-8). Serão “todos os apóstolos” diferentes dos “Doze”? Mateus 10:2-4 fornece uma relação nominal dos “doze apóstolos” e também 1 Timóteo 1:1 e 2:6 se refere a Paulo, Silas, Timóteo como “apóstolos”. Romanos 16:7 se refere a mais dois apóstolos, Andrônico e Júnias. Em Atos 14:14, Lucas se refere a Barnabé como um “apóstolo”. Finalmente, Tiago (o irmão do Senhor) parece haver sido juntado ao grupo dos apóstolos em Gálatas 1:18-19 e 2:9. Em que sentido eram “apóstolos” essas outras pessoas? Nas Escrituras havia essencialmente dois tipos de apóstolos. Antes de tudo, havia aqueles apóstolos que viram fisicamente o Senhor Jesus e que foram pessoalmente escolhidos por Ele para representá-Lo. Eles foram treinados pessoalmente por Jesus para o trabalho (veja 1 Coríntios 15:8-9 e Gálatas 1:11 e 2:10). Esse grupo se constituiu dos pesos-pesado espirituais. Eles eram as normas para a doutrina e a prática na igreja primitiva. Foram eles os autores ou os que aprovaram todos os livros que hoje compõem o cânon das Escrituras do Novo Testamento. Enquanto que os apóstolos desse primeiro tipo foram preparados e enviados por Jesus, os do segundo tipo foram preparados e enviados pela igreja e eram dotados de muito menos autoridade (Atos 13:1-3, 2 Coríntios 8:23 e Filipenses 2:25). Não havendo sido treinados por Jesus, o segundo tipo de apóstolos meramente estudou e repetiu o que o primeiro grupo deles ensinou (1 Coríntios 4:16, 1 Timóteo 3:14-15, 2 Timóteo 2:2 e Tito 1:5). A palavra “apóstolo” na sua Bíblia é uma tradução da expressão grega apóstolos. A tradução correta deveria ser algo como “enviado, embaixador, mensageiro, enviado” (Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Brown, vol. 1, pág. 126). O verbo apostello traz a noção de “enviar com um propósito particular”. Assim, apóstolo pode significar “alguém comissionado” ou “mensageiro credenciado” (Novo Dicionário Bíblico, Davis, 57-60). Jerônimo, ao traduzir o Novo Testamento do grego para o latim, colocou “apóstolos” como a raiz latina do que seria mais corretamente traduzido para o nosso atual “missionário”. Você percebeu que a palavra “missionário” não é encontrada na Bíblia em inglês? (Nota da tradutor: o autor faz referência à língua de seu país, os Estados Unidos. Ocorre que também nas traduções em português a palavra não aparece uma vez sequer). Ainda assim, virtualmente todos os evangélicos acreditam em “missionários”. Isso acontece por ser “missionário” o equivalente dinâmico de apóstolo. A justificativa para a existência de missionários contemporâneos reside nos padrões do Novo Testamento e nos ensinamentos sobre a existência dos apóstolos. Então, enquanto que o primeiro tipo de apóstolo não mais existe, os modernos missionários certamente representam o segundo tipo deles. Isto é, os atuais missionários são enviados pelas igrejas para evangelizar e para iniciar igrejas. Os plantadores de igrejas são verdadeiros apóstolos do segundo tipo descrito acima e são tão necessários hoje o quanto o foram no primeiro século. Admitindo-se que de fato houvesse um padrão do Novo Testamento para justificar a existência de plantadores de igrejas hoje, como poderiam os modernos apóstolos realizar seus ministérios? Baseados em Atos 1:4, 8:12 e 15:1-2, (cp. Gálatas 1:11, 1:18, 2:1 e 2:9) e Atos 21:17:18, parece que a maioria dos Doze trabalhou fora de Jerusalém pelo menos dezessete anos (esta era sua base de operações). Quando lá, os apóstolos devotavam seu tempo evangelizando aos perdidos e ensinando aos salvos. Eles ocasionalmente faziam curtas viagens missionárias enquanto baseados fora de Jerusalém (Atos 8:14 e 8:25). Durante o tempo em que Paulo esteve ali, entretanto, parece que ele se retirou, conforme Atos 21:17-18. Apenas Tiago ainda estava naquela cidade. De toda forma, analisando-se bem o Novo Testamento, torna-se óbvio que um constante movimento caracterizava a maioria dos outros apóstolos. Eles viajaram, pregaram o Evangelho e organizaram igrejas. Raramente esses apóstolos viajantes se fixaram permanentemente em uma localidade. Isso é muito diferente do que ocorre hoje nas missões! Ocasionais paradas eram feitas em localidades estratégicas, mas o circuito sempre continuava. Por exemplo, Paulo permaneceu um ano e meio em Roma (28:31). Ele se esforçou para resistir à tentação de ali ficar mais tempo. Similarmente, Paulo disse ao apóstolo Timóteo para “que ficasse em Éfeso, para advertires a alguns que não ensinassem doutrina diversa” (1 Timóteo 1:3). Porém, depois que o trabalho terminou, Paulo escreveu a Timóteo: “Apressa-te a vir antes do inverno” (2 Timóteo 4:21). Apesar do que comumente se supõe, Timóteo foi um apóstolo e não um pastor em Éfeso. Outro exemplo é Tito, deixado em Creta para “que pusesses em boa ordem o que ainda não o está” e para “que em cada cidade estabelecesses anciãos” (Tito 1:5). Depois que isso aconteceu, Tito foi juntar-se a Paulo em Nicópolis (Tito 3:12). Quais objetivos tiveram os primeiros apóstolos, como motivação para suas viagens? Um deles foi a evangelização. Discorrendo sobre as características dos apóstolos, Paulo referiu-se a eles como “os que anunciam o evangelho” (1 Coríntios 9:14). Similarmente, Timóteo foi retratado como “fazendo a obra de um evangelista” (2 Timóteo 4:5). Mesmo uma leitura superficial de Atos mostrará essa como uma importante função dos apóstolos. Outro objetivo desses enviados das igrejas foi a organização e o fortalecimento dos novos convertidos. Essa era a parcialmente a razão da permanência dos apóstolos de um ou dois anos em apenas uma localidade. Efésios 4:11-13 nos diz que Deus colocou os apóstolos “para preparar o Seu povo para exercer o trabalho de servir”. Paulo planejou uma visita a Éfeso, mas, pensando que poderia demorar mais do que o previsto, deixou instruções aos irmãos para que “saibas como se deve proceder na casa de Deus” (1 Timóteo 3:15). O trabalho de Timóteo era “confiar” a verdade a “homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Timóteo 2:2). A maior diferença entre um ancião e um apóstolo é que a esfera dos serviços do primeiro é permanentemente concentrada em uma igreja local, enquanto que o campo do apóstolo é universal e temporário. Desde que um apóstolo haja treinado e empossado os anciãos, ele se retira para outra localidade. Depois disso, são os anciãos que ensinam a igreja e treinam outros futuros anciãos, com ajuda ocasional dos apóstolos, de passagem. Sob a orientação do Espírito Santo, nenhuma palavra registrada nas Escrituras é acidental ou sem importância. Todos os escritos são para seu proveito. Assim como ignorar padrões do Novo Testamento sobre eclesiologia gera riscos para nós, assim também desatender às práticas apostólicas do Novo Testamento é imprudente. A existência dos obreiros itinerantes da igreja é um padrão do Novo Testamento. Virtualmente cada igreja mencionada no Novo Testamento teve seu início propiciado por equipes apostólicas e continuaram seus relacionamentos com elas por muitos e muitos anos. Nosso sangue circula por todo o corpo, fornecendo o oxigênio e eliminando as impurezas. Os trabalhadores itinerantes da igreja são para ela o que o sangue é para o corpo. Seus ministérios são partes importantes do projeto de Deus para igrejas mais sadias e crescentes. O padrão do Novo Testamento é a existência de igrejas que enviem missionários que iniciem novas igrejas em áreas não atingidas pelo Evangelho. Nós ainda precisamos do ministério desses homens hoje. Esses modernos “apóstolos” podem inclusive ajudar igrejas existentes a consolidar-se na sã doutrina e na prática correta. Eles servem como professores de seminário sobre rodas, treinando e equipando líderes de igreja em suas próprias localidades 1 Timóteo 1:3, 3:14-15, 4:1-6 e 4:13, 2 Timóteo 1:13, 2:1-2, 2:14 e 4:1-5 e Tito 1:5 e 2:1-15). Os apóstolos do nosso tempo devem ser servos da igreja, não senhores sobre elas. Embora eles venham naturalmente a ter a influente autoridade de um ancião sobre as igrejas que iniciam, o moderno apóstolo não tem nenhum “posto” maior do que qualquer ancião. Os apóstolos modernos não são como os Doze. Eles precisam recordar de que a fé “de uma vez para sempre foi entregue aos santos” (Judas 3). Nenhum ensino “novo” é necessário; nenhuma teologia essencial foi antes retida da igreja. Assim, o ensino do iniciador de igrejas deve ser em harmonia com as revelações anteriores dos Doze. Não duvide de que ocasionalmente surgirão falsos apóstolos e, por causa disso, precisamos ser como os Efésios que puseram “à prova os que se dizem apóstolos e não o são, e os achaste mentirosos” (Apocalipse 2:2). Não é provável que possamos encontrar de novo apóstolos no sentido dos “Doze”. Entretanto, a igreja sempre teve e continuará a ter apóstolos no sentido de Barnabé, Timóteo, Tito e Epafrodito, isto é, plantadores de igrejas enviados para evangelizar, iniciar igrejas, treinar e empossar líderes e depois se mudarem para outras localidades. Equipes apostólicas foram fundamentais na divulgação e na maturidade da igreja primitiva. A existência deles e seus ministérios são padrões do Novo Testamento. Eles evangelizaram, fizeram discípulos, ensinaram, organizaram e deram posse a anciãos. Podemos iniciar uma igreja sem a presença de um apóstolo? Sim. Pode uma igreja existente funcionar sem o impulso inicial de um apóstolo? Sim. Pode uma igreja eleger seus próprios anciãos? Sim. Porém, tudo isso é muito mais fácil se os obreiros apostólicos estiverem disponíveis. Sumário Do que a igreja não precisa é: Auto-proclamados apóstolos que tentam ser senhores (governar) a igreja local. Apóstolos devem ser servos da igreja (Colossenses 1:25 e 2 Coríntios 13:4). É tarefa dos apóstolos fortalecerem a liderança local, não a suplantar. De fato, os apóstolos devem ser responsáveis pela liderança da igreja local. Apóstolos que dominem as reuniões da igreja local e procurem transformá-las em um espetáculo de um só homem. Apóstolos devem ser como treinadores, não como jogadores. A igreja “pertence” aos irmãos, não aos apóstolos. Parasitas da igreja. Apóstolos têm direito a apoio financeiro, mas devem ser capazes e desejarem trabalhar secularmente, se for necessário. Apóstolos que mascateiam a Palavra de Deus, cobrando pelas aulas nas classes bíblicas. A igreja precisa que você: Ore para que Deus levante, em nosso tempo, apóstolos modernos que desejem iniciar igrejas domiciliares bíblicas (Mateus 9:37-38). (Pergunte a Deus e a outros crentes se, talvez, você deva fazer parte de um ministério apostólico. Você talvez receba a resposta à sua própria oração!). Ore pelos que já estão fazendo trabalho evangelístico (Efésios 6:19-20 e Colossenses 4:2-4). Faça doações financeiras para ajudar aos apóstolos de tempo integral (e evangelistas) (1 Coríntios 9:14). Esteja aberto ao ministério e ao incentivo dos apóstolos. A influência dos mencionados trabalhadores itinerantes podem impedir a igreja de tornar-se estagnada ou de contentar-se com a alegre comunhão dos crentes da mesma opinião. Grupos isolados podem facilmente se esquecer do desejo de Deus de que evangelizemos e busquemos aos perdidos. Tradução de Otto Amaral (*) Steve Atkerson e sua esposa Sandra vivem no norte da Geórgia (Estados Unidos), com seus três filhos, aos quais ministraram educação formal em casa. Steve formou-se na Georgia Tech e trabalhou em eletrônica industrial antes de ir para o seminário. Depois de graduado Mestre em Divindade pelo Mid America Baptist Theological Seminary, em Memphis, serviu por sete anos como pastor da Igreja Batista do Sul. Ele demitiu-se em 1990 para trabalhar com igrejas que desejavam seguir as tradições apostólicas em suas práticas. Ele viaja e ensina onde o Senhor abre as portas da oportunidade. Steve é também ancião na igreja domiciliar que ajudou a fundar em 1990, além de ser professor, palestrante itinerante e presidente da NTRF (Fundação para Restauração do Novo Testamento), autor dos livros The practice of the Early Church: A Theological Workbook, do Equipping Manual e é editor e autor de artigos do livro Ekklesia: To the Roots of Biblical House Church Life.